quinta-feira, 23 de julho de 2015

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Meu pai tinha um funcionário que era da doutrina espírita e tinha por hábito distribuir presentes e cestas de natal aos pobres, pedindo doações em grandes lojas e mercados ou até de pessoas físicas caridosas. Nos anos 80, não sei bem a data, mamãe combinou uma parceria com ele e começou a cadastrar as famílias necessitadas em nossa região. Muitos estranharam pelo fato dela estar ajudando uma ação espírita, sendo ela tão atuante e engajada na comunidade católica, mas nem para ela, nem para ele, isso fazia diferença. O que importava era de verdade o natal farto e feliz que podiam proporcionar para aquelas pessoas.
Chegando próximo ao natal, minha casa ficava lotada de bolas, bonecas, carrinhos e produtos alimentícios e nós ajudávamos, pouco eu confesso, a separar por família o tipo e a quantidade de brinquedos e alimentos. Depois, os que moravam perto vinham buscar em nossa porta e os mais distantes e com dificuldade de locomoção, nós mesmos íamos entregar ou o funcionário do meu pai. Pura alegria. Minha mãe não ficava cansada, ficava feliz!
Nenhum dos dois estava divulgando o Centro ou a Igreja, mas a solidariedade. Não ia junto com as cestas o nome da instituição e sim um cartão de Feliz Natal. Nenhum dos dois tinha tempo para ficar discutindo as divergências de dogmas religiosos e cada um continuou professando a sua fé, em particular. Tenho certeza, no entanto, que Deus olhou para os dois com carinho... Não me recordo o nome daquele funcionário do papai, mas Deus sabe bem.
Entre os mais jovens da família, do bairro, da sociedade enfim , minha mãe pode ser apenas uma velhinha que pouco sai de casa, inativa e dependente.
Para mim, ela é um exemplo de força, doação e desapego material. Das dores da velhice, a pior delas não é a perda da memória do idoso, mas a perda da memória de muitas pessoas que se esquecem tudo o que o idoso fez de bom e útil pela vida afora.

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