terça-feira, 26 de maio de 2015
CANTO DO MUNDO
Eu canto num canto do mundo,
de um azul profundo
uma música linda
Canto aqui e agora
como já fiz lá fora
outra música, ainda
O mundo reage ao meu canto
reação em cadeia
o azul se incendeia
O laranja se encanta e o Sol se reparte
em um vermelho forte que invade o norte
respinga no Sul, toca e retoca,
arremata em azul.
Eu canto num canto do universo
de um azul singelo
apenas um verso
O canto se esgueia no azul, se pinta de cores
de luzes e amores
retorna pra mim
o mundo reage de novo: reação em cadeia*
num canto do mundo , num giro sem fim.
Fernanda Bega.
sábado, 23 de maio de 2015
Ah, poeta...
Nada tão docemente amargo quanto o coração de um poeta,
nem tão caro quanto seu espírito tangível!
Desprotegido e nú, vagueia seu ser entre horrores e maravilhas.
A caneta lhe vale o reinado e por ela grava cicatrizes no papel dos corações humanos
Tateia na escuridão do próprio cérebro e com incrível agilidade desencrava peças do inconsciente.
À luz de sua razão, em seguida, transborda nos quatro cantos do universo.
Nada tão calmo e vazio quanto um poeta transbordado,
nem tão ansioso quanto um poeta calmo e vazio!
Retorna no seu mergulho negro até que esgote o veio, sem satisfazer-se...
Esgotando um e mais outro procura preencher-se.
Novamente, vagueia e observa...
Expõe-se nú e desprotegido a horrores e maravilhas e deixa marcar seu espírito pela caneta da vida.
Abdica seu reino em favor de uma causa suicida,
mas quando volta vitorioso é coroado de novas pedras,
tornando a garimpar sua escuridão!
Nada tão obstinado quanto um poeta antes do mergulho,
nem tão forte e vivo quanto um poeta obstinado!
Porém, de tantos que são os horrores,
de tão sensível às maravilhas que é o espírito,
de tão exausto o corpo dos mergulhos;
nada é tão velho quanto um poeta cansado, nem tão triste quanto um poeta morto!
Fernanda Bega
escrito em 15 de julho de 1980- às 15hs- para Vinícius de Moraes que acabara de falecer.
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