terça-feira, 16 de julho de 2013

Em 1974, ouvindo Music and Me


Algumas vezes tenho vontade de ser outra pessoa.
Acho que toda mulher pode entender essa sensação...
Vontade de ser mais bonita. Vontade de ser mais alta. Vontade de ser estilosa e cheia de atitude, sei lá coisas que admiro em outras mulheres e que sei que todos admiram.
Estilo é uma coisa que sempre achei o máximo, mas parece que é algo que ou se tem ou não se tem. Eu nunca vi ninguém adquirir um estilo de uma hora pra outra! Em compensação, tem crianças pequenas ainda com 6, 7 anos que já mostram seu jeito de ser ao escolher roupas e acessórios.
Sei lá por que, eu não tenho. Fui uma criança criada entre sete irmãos e não éramos miseráveis, mas roupa era luxo. A gente herdava do irmão/ irmã mais velho ou de uma prima distante. Nunca o tamanho era certo, nunca a cor era a que você gostava e a moda, hehe, a moda era de anos atrás, claro. Pra ajudar, eu era uma menina tímida e tranqüila, nunca me recordo de ter brigado para vestir uma roupa ao invés de outra; o que minha mãe escolhia estava muito bem. Mamãe era muito caprichosa, ela personalizava até meus uniformes escolares: as camisas brancas de botão sempre tinham rendinhas ao redor da gola e da carreira de botões. Nos meus aniversários, mamãe ia pra máquina de costura e fazia um vestido novo; aí sim eu escolhia tecido, cor, modelo, tudo. Era uma alegria.
Lembro bem do vestido dos 13 anos porque foi um aniversário especial, ela me deixou fazer um bailinho de garagem daqueles que tinha a vitrola, os discos e nada mais, nem precisava de comes e bebes, alguns mais sofisticados tinham a maravilhosa luz negra, mas o principal mesmo é que era uma festa sem adultos, só nossa.
O vestido desse ano, 1974 exatamente, era com estampa floral rosa, um tecido bem leve. Saia godê, curtinha e laços nas duas laterais da cintura. A blusa tinha decote em V, transpassado. Simples e lindo! Eu fiquei uma boneca, sem falsa modéstia. O bailinho foi a glória. Quando não tínhamos a música do momento, os amigos traziam seus “compactos” (pequenos discos de vinil com uma ou duas canções de cada lado, geralmente hits do momento).
O must da hora era Music and Me do Michael Jackson, que a gente ouvia (e chorava), ouvia e ouvia até furar como dizíamos.
Dançar Music and Me de rosto colado no dia do aniversário de 13 anos realmente não tem preço! Coisa que não se esquece. Momento que se recorda com cheiros, cores e sons!
O lado chato era que mamãe achava que tinha que fazer um vestido igual para minha irmãzinha, quatro anos mais nova... um bebê de 9 anos , na minha visão do alto dos 13 (risos). E foi o que fez : para Maria Imaculada um vestido igualzinho só que com flores azuis. No baile, ela entrava e saía, imitava a gente porque queria brincar e não entendia ainda a graça de uma festa sem bexigas, bolo e guaraná!
Depois deste vestido, lembro-me do dos 17 anos. Perfeito. Copiado em detalhes de uma revista de moda e mamãe se virou para fazer do jeitinho que eu queria. Era rosa, de crepe bem amassadinho, comprimento pouco abaixo do joelho, cintura alta marcada com cós de intertela por dentro, manga ¾ levemente bufante e tinha fitas de cetim espaçadas na saia que aumentavam de largura até a barra num tom de rosa acima. Os botõezinhos na blusa eram forrados com o mesmo tecido e fazia um estilo hippie chique. Adorei aquele vestido. Mesmo. Fazer 17 anos foi mágico, ganhei flores e uma gargantilha do meu pai. E dona Leny sempre fazendo milagre com o pouco que tinha, tirando da cartola nossa alegria, valeu mãe.
É isso. Vida é isso.
Circunstâncias, contexto, realidade familiar, tudo nos molda, nos encaminha, cria hábitos e até traumas. Mas , pensando bem, eu não queria ser outra pessoa não. Tudo bem, não foi fácil e cheio de recursos; não aprendi a me conhecer cedo, a saber do que eu gostava porque tinha que aprender a gostar do que tinha. No entanto, tenho essas lembranças riquíssimas. Quem tem milhares de vestidos à disposição como poderia se lembrar de dois assim como eu me lembro? E com tudo tão fácil, como é hoje, como valorizar o que se tem, o que se ganha?
Ser eu mesma tem seu preço, olho no espelho e desgosto de algumas coisas. Minha auto estima é sofrível, no mínimo. Eu sei entretanto que tive uma vida intensa, plena de boas lembranças que não se devem ao fato de ter, de possuir coisas materiais. Intensidade vinda do carinho, do zelo, do tempo e do amor de cada pessoa que cuidou de mim nesta caminhada. Sou grata por ser essa pessoa hoje.