segunda-feira, 17 de junho de 2013

A democracia inclui o direito de discordar

Quando eu estava no primeiro ano da faculdade e isso foi em outra era, as Faculdades Integradas Alcântara Machado tinham a péssima prática de não enviar folha de prova para os alunos que estivessem em atraso com as mensalidades. Era uma faculdade paga e bem paga. Muitos de nós, alunos de escola pública, só estávamos ali porque entrar na USP era pros ricos que tinham cursado bons colégios. Claro que também tinham os alunos ricos, mas a maioria não tinha certeza se conseguiria pagar o curso todo ou o próximo mês.
O pessoal do Centro Acadêmico caía matando sobre essa prática que expunha o aluno em débito de forma humilhante. Propuseram, então, que todos nos negássemos a usar a folha de prova oficial e personalizada se não viessem provas para todos. No dia da prova, todos empurramos a folha personalizada e pegamos folhas de caderno comum e fizemos nossas provas. Era uma prova de Filosofia. A classe toda tirou zero de média nessa matéria.
Nós tínhamos 17, 18 anos. Muitas meninas, como eu, vinham de um colégio onde quase chamavam as professoras de “tia” ainda. Éramos crianças crescidas e ninguém teria condições pessoais de não participar da proposta do Centro Acadêmico, imagina diante do amigo devedor como ficaria sua imagem? Digo isso porque os jovens, muito jovens são assim. Cheios de energia, de coragem, de bons propósitos!
Este ato foi até uma coisa bem simpática e o motivo era bastante justo. O que eu questiono é aquela menina que eu fui e minhas colegas de sala tiveram a opção de não participar ou fomos coagidas como num piquete?
Hoje, eu diria escolha as suas causas e lute por elas. Causas justas, coletivas, mas não se deixem comandar como um bom rebanho porque rebanho não pensa.
Ah, em tempo, a faculdade não mudou a prática de humilhar o aluno devedor. Meu zero justamente em Filosofia foi emblemático e único em todo meu currículo.
Sou totalmente pacifista. Adepta da não-violência... Não quero jogar pedra, nem receber pedrada. Claro que o argumento geral é de que não se muda nada pacificamente.
Não foi isso que o Gandhi ensinou ao mundo, né?
Apesar de não estar nas ruas, rezo por todos que sabem exatamente pelo que estão protestando e que vão pro protesto com suas próprias pernas e pensamentos. Verdade é que o ser humano, em toda sua história, foi manobrado muitas vezes. Muitas mesmo.

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